segunda-feira, 15 de junho de 2009

Antropologia e cultura

Europa, século XIX: a visão cientificista de mundo, produto e produtora do mundo capitalista em expansão, promoveu o aparecimento de diversas disciplinas ligadas às ciências naturais e também às chamadas ciências humanas. A Sociologia e a Antropologia têm aí seu nascedouro.

Os primeiros pesquisadores ligados à nova ciência, afirmavam que para conhecer o “homem” não bastava estudar a sociedade européia (considerada, equivocadamente, um todo coeso e uniforme). Era preciso analisar agrupamentos sociais formados por não-europeus, preferencialmente aqueles com hábitos bastante diversos dos de moradores de Paris, Londres ou Milão. Assim se deu o nascimento da Antropologia.

Enquanto a Sociologia pode ser definida como “ciência da sociedade”, a Antropologia se configura como “ciência do homem”. Dessa forma, crenças religiosas, formas de organização política, costumes, manifestações artísticas, estrutura familiar, idiomas, relações com outros grupos sociais, tudo isso forma o objeto de estudo do antropólogo.
Existe um conceito que pode resumir esse objeto de estudo: o de cultura. Essa palavra, em sua origem usada para designar o processo de “cultivar a terra” – daí a falarmos, por exemplo, em cultura de grãos –, foi passando por sucessivas ampliações de sentido, até que chegou aos significados que conhecemos hoje.
Se encontramos uma pessoa com vasto conhecimento sobre literatura, cinema, artes plásticas, música, costumamos dizer que ela tem muita cultura, já que esse termo pode definir, de acordo com o dicionário Houaiss, “o cabedal de conhecimentos, a ilustração, o saber de uma pessoa”. Em outra perspectiva, quando dizemos que um governo precisa investir mais em cultura, queremos dizer que é necessário valorizar o “complexo de atividades, instituições, padrões sociais ligados à criação e difusão das belas-artes, ciências humanas e afins”, uma vez que essa, de novo segundo o Houaiss, é outra acepção atual da palavra.

Para a Antropologia, o conceito de cultura é ainda mais amplo:

Ele engloba os padrões de comportamento, as crenças e os valores, os conhecimentos e os costumes que caracterizam um grupo social e, mais do que isso, que fazem com que cada membro de um mesmo grupo interprete o mundo de modo mais ou menos parecido.

Assim, a cultura não está associada apenas a elementos que podem ser considerados em sua realidade concreta e material; ela também remete a formas abstratas de pensamento, aos símbolos por meio dos quais cada homem compreende e avalia tudo o que ocorre a sua volta.
Usando as palavras de Denys Cuche: “Se todas as ‘populações’ humanas possuem a mesma carga genética, elas se diferenciam por suas escolhas culturais, cada uma inventando soluções para os problemas que lhe são colocados”. Essas escolhas culturais não são – é importante que se diga – racionais ou intencionais. Elas são o resultado do acúmulo de experiências de várias gerações e podem alterar-se conforme as necessidades do grupo.

Com efeito, do ponto de vista biológico, todos os homens são iguais e pertencem a uma mesma espécie. Porém, do ponto de vista antropológico, cada agrupamento humano tem a sua cultura e as suas particularidades. Foi por isso que os primeiros antropólogos, reconhecendo essas diferenças, resolveram estudar sociedades não-européias, cujas culturas eram menos conhecidas e, desse modo, permitiriam maior desenvolvimento das pesquisas que se iniciavam.


Nenhum comentário:

Postar um comentário