quinta-feira, 25 de junho de 2009

Proposta

Pois então:

Conversamos hoje em aula e pedi a vocês que fizessem um comentário sobre a pesquisa relacionada ao preconceito nas escolas públicas.

Mantenho a proposta. E peço que vocês procurem utilizar como apoio os textos publicados no blog sobre minorias pois eles podem auxiliar nas postagens de vocês.

Porém...

Caso não queiram comentar o texto sobre preconceito, sugiro como alternativa para atividade o texto sobre o conceito de Ideologia para Marx.

Fica a sugestão. 

A opção é de vocês e, lembro, a postagem deve ser feita até terça-feira, 30 de junho.

Abraços,

quarta-feira, 17 de junho de 2009

Pesquisa revela preconceito nas escolas

Flávia Albuquerque, UOL educação, 17/06/2009

Pesquisa realizada em 501 escolas públicas de todo o país, baseada em entrevistas com mais de 18,5 mil alunos, pais e mães, diretores, professores e funcionários, revelou que 99,3% dessas pessoas demonstram algum tipo de preconceito étnico-racial, socioeconômico, com relação a portadores de necessidades especiais, gênero, geração, orientação sexual ou territorial. 


O estudo, divulgado nesta quarta-feira (17), em São Paulo, e pioneiro no Brasil, foi realizado com o objetivo de dar subsídios para a criação de ações que transformem a escola em um ambiente de promoção da diversidade e do respeito às diferenças.

De acordo com a pesquisa Preconceito e Discriminação no Ambiente Escolar, realizada pela Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas) a pedido do Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira), 96,5% dos entrevistados têm preconceito com relação a portadores de necessidades especiais, 94,2% têm preconceito étnico-racial, 93,5% de gênero, 91% de geração, 87,5% socioeconômico, 87,3% com relação à orientação sexual e 75,95% têm preconceito territorial.

Segundo o coordenador do trabalho, José Afonso Mazzon, professor da FEA-USP (Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo), a pesquisa conclui que as escolas são ambientes onde o preconceito é bastante disseminado entre todos os atores. "Não existe alguém que tenha preconceito em relação a uma área e não tenha em relação a outra. A maior parte das pessoas tem de três a cinco áreas de preconceito. O fato de todo indivíduo ser preconceituoso é generalizada e preocupante", disse.

Com relação à intensidade do preconceito, o estudo avaliou que 38,2% têm mais preconceito com relação ao gênero e que isso parte do homem com relação à mulher. Com relação à geração (idade), 37,9% têm preconceito principalmente com relação aos idosos. A intensidade da atitude preconceituosa chega a 32,4% quando se trata de portadores de necessidades especiais e fica em 26,1% com relação à orientação sexual, 25,1% quando se trata de diferença socioeconômica, 22,9% étnico-racial e 20,65% territorial.

O estudo indica ainda que 99,9% dos entrevistados desejam manter distância de algum grupo social. Os deficientes mentais são os que sofrem maior preconceito com 98,9% das pessoas com algum nível de distância social, seguido pelos homossexuais com 98,9%, ciganos (97,3%), deficientes físicos (96,2%), índios (95,3%), pobres (94,9%), moradores da periferia ou de favelas (94,6%), moradores da área rural (91,1%) e negros (90,9%).

De acordo com o diretor de Estudos e Acompanhamentos da Secad (Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade) do MEC (Ministério da Educação), Daniel Chimenez, o resultado desse estudo será analisado detalhadamente uma vez que o MEC já demonstrou preocupação com o tema e com a necessidade de melhorar o ambiente escolar e de ampliar ações de respeito à diversidade.

"No MEC já existem iniciativas nesse sentido [de respeito à diversidade], o que precisa é melhorar, aprofundar, alargar esse tipo de abordagem, talvez até para a criação de um possível curso de ambiente escolar que reflita todas essas temáticas em uma abordagem integrada", disse.



terça-feira, 16 de junho de 2009

Habitar o Vento

A antropóloga Margaret Mead é uma personagem monumental, uma das grandes mulheres do século XX. Fisicamente, contudo, era muito pequenina; aos 23 anos, mal media 1.50 metros e só pesava 46 quilos. Tinha essa idade em 1924, quando viajou para Samoa, na Polinésia, para fazer seu primeiro trabalho de campo. Assim, tão miúda, cabelo crespo e curto, grandes olhos azuis, óculos de fundo de garrafa e cara de menino travesso, Mead parecia uma garotinha. Com o tempo, porém, engordou muitíssimo. Foi uma mudança prodigiosa: ela se dilatou e se achatou como um croquete. Desde que fraturara uma perna em 1960, Margaret sempre levava consigo uma longa forquilha de castanheiro. Vista nas fotos dessa época, redonda e pigméia até o inverossímil e brandindo sua vara primitiva, a antropóloga parece um personagem de conto de fadas: um gnomo, uma bruxa resmungona mas bondosa, uma feiticeira arcaica.
(...)
Margaret Mead é uma personagem complexa, secreta, contraditória, de uma enormidade irredutível e explicações fáceis. (...) Levantava-se todo dia às cinco da manhã e, antes de chegar ao seu escritório no museu americano de História Natural, já escrevera três mil palavras. Fez 39 livros, 1.397 artigos e 43 obras filmadas ou gravadas, e realizou cerca de 15 estudos de campo em lugares remotos. Mas além disso, e entre outras coisas, deu aulas em diversas universidades, trabalhou trinta anos como conservadora do museu, participou de todo tipo de conferência, dirigiu a Comissão de Hábitos Alimentícios (organismo oficial que mais tarde se tornaria a Unesco), deu tantas entrevistas quanto uma atriz de Hollywood, casou-se três vezes e, para culminar, teve uma filha, Catherine Beteson, também antropóloga (...).
Mead foi uma perfeita filha do seu tempo, uma jovem dos anos 1920. Era uma época de audácia e transgressão: as mulheres encurtavam as saias e os cabelos, ouviam jazz em porões turbulentos, bebiam álcool até perderem os sentidos, praticavam o amor livre e tornavam-se pilotos de corrida. Margaret jamais se permitiu algum excesso e, enquanto a cidade crepitava ao seu redor, dormia disciplinadamente em sua caminha de donzela; mas se desfez de suas espessas e simbólicas madeixas novecentistas (...) e foi a mais aventurosa de uma geração de aventureiras, a mais aguerrida de um mundo de guerreiras.
(...)
Margaret Mead revolucionou a antropologia. Primeiro porque a popularizou: era uma ciência muito jovem e ela soube vende-la publicamente, contar detalhes saborosos nos jornais, fazer de si mesma uma personagem. Mas, além disso, desenvolveu e aperfeiçoou os métodos de trabalho (a aplicação da fotografia, por exemplo) e, sobretudo, fez perguntas que antes ninguém fazia. Centrou-se em temas aparentemente secundários naquela época: as mulheres, as crianças, as diferenças de gênero. Tornou-se famosa desde seu primeiro livro, mas com Sexo e Temperamento nas sociedades primitivas, publicado em 1930, armou uma revolução. A obra é o estudo de três tribos da Nova Guiné, relativamente próximas entre si, e nas quais os papeis sexuais eram completamente diferentes: na primeira, tanto homens quanto mulheres se comportavam de maneira passiva, afetuosa, maternal; na segunda, eles e elas eram agressivos e violentos; e na terceira, enfim, os varões atuavam segundo o estereótipo feminino ocidental (iam às compras, encrespavam o cabelo), enquanto as mulheres agiam segundo o estereótipo masculino (não se enfeitavam, eram as mais energéticas, as mais decididas).
De tudo isso, Mead deduzia sensatamente que as diferenças de comportamento em razão do sexo não eram naturais e imutáveis, mas sobretudo culturais; de modo que, com seus trabalhos, ela contribuiu substancialmente para libertar a mulher (e o homem, inegavelmente) dos estereótipos sexuais. Margaret Mead não estava sozinha nessa reclamação, e sim fazia parte de um amplo movimento científico que, na velha polêmica entre ambiente e herança, advogava a preponderância do cultural. Hoje, volta a estar na moda justamente o contrário, o biologismo. (...)
De fato, Mead foi pioneira de um dos conceitos centrais da modernidade: a valorização das diferenças.
Adaptado de Montero, Rosa; Histórias de Mulheres. Ed. Agir, 2008.


segunda-feira, 15 de junho de 2009

Marx e ideologia

Longe de nos ser apresentado como perfeito, “nosso mundo” nos é dado como tragédia.
O realismo das imagens, sim nosso mundo é imagético, nos dá informações precisas sobre guerras, crimes, miséria, fome, fratricídios, homicídios; nos dá a prova que diante dos fatos desse nosso mundo, ele que é como é, nada adianta fazer. Rendemo-nos, assim, ao reino do determinismo; da impossibilidade de ação; da quase certeza da índole destrutiva do homem que é, Hobbes está com a razão, lobo do homem.

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É curioso notar como Marx apresenta sua leitura ou construção teórica para o conceito de ideologia.
A teoria marxista, numa análise assumidamente rasteira, digo logo, é teoria materialista. Enxerga o homem envolvido sempre em determinadas relações, relações de produção, que resultam primeiramente da necessidade de satisfação daquilo que nos é básico; elementar. Afinal, precisamos comer para existir, crescer, reproduzir e garantir perpetuação como espécie. Nesse processo, nos relacionamos com nossos semelhantes e com a natureza. Damos significado ao mundo e adquirimos, nós também, significado/existência diante dele. O ato fundador de todo esse processo é o trabalho. Somos o que e como (no caso, em que condições) trabalhamos. Daí teoria materialista.
O desenvolvimento das formas e relações de trabalho ao longo da história humana engendrou novas relações entre homens; estabeleceu uma divisão do trabalho cada vez mais complexa e, com o aparecimento da propriedade privada dos meios de produção, uma separação entre grupos ou “classes sociais” – para manter fidelidade a termologia marxista.
Vale frisar que, para Marx, o conceito de classes sociais está intimamente relacionado ao processo de produção sendo que a posição social de um indivíduo relaciona-se intimamente à posição que ele ocupa neste processo. Exemplificando: na sociedade capitalista as classes sociais fundamentais, burguesia e proletariado, distinguem-se pelo fato de a primeira ser a detentora dos meios de produção e a segunda, por ser expropriada destes.

Como afirmam Marx e Engels em A Ideologia Alemã, ao marcarem sua oposição ao idealismo:

“... parte-se dos homens realmente ativos e, a partir de seu processo de vida real, expõe-se também o desenvolvimento dos processos ideológicos e dos ecos desse processo de vida. (...) Não é a consciência que determina a vida, mas a vida que determina a consciência.”

Partindo de tal premissa, toda a produção da consciência humana - em qualquer momento histórico - encontra-se condicionada às relações materiais de produção; é expressão de tais relações. O espírito é impregnado, desde sempre, de materialidade. Outra forma de dizer o mesmo: ideologia, para Marx, é intimamente ligada, determinada, pela ação dos homens envolvidos no processo de produção. Temos aí, nessa afirmação da base material da produção das idéias, o elemento definidor do conceito de ideologia para a teoria marxista.

Seguimos: como classe dominante, a burguesia se apropria do aparelho do Estado, utilizando-o no sentido de garantir sua dominação sobre as classes subalternas. Repressão legal, quer seja ela política, jurídica ou policial, constituem a expressão dessa dominação. Para além disso, a dominação burguesa se dá também através do discurso ideológico.

Continuando com Marx:

"As idéias da classe dominante são, em cada época, as idéias dominantes; isto é, a classe que é a força material dominante da sociedade é, ao mesmo tempo, sua força espiritual dominante. A classe que tem à sua disposição os meios de produção material dispõe, ao mesmo tempo, dos meios de produção espiritual, o que faz com que a ela sejam submetidas, ao mesmo tempo e em média, as idéias daqueles aos quais faltam os meios de produção espiritual."

Ou ainda:

"Os indivíduos que constituem a classe dominante possuem, entre outras coisas, também consciência e, por isso, pensam; na medida em que dominam como classe e determinam todo o âmbito de uma época histórica, é evidente que o façam em toda a sua extensão e, consequentemente, entre outras coisas, dominem também como pensadores, como produtores de idéias... e que suas idéias sejam, por isso mesmo, as idéias dominantes de uma época.”

Tais passagens deixam clara a conexão que existe entre produção de idéias e idéias dominantes em um dado modo de produção. As idéias que sobressaem em determinado período são, na verdade, as idéias da classe que detém o poder econômico e político em um período. Mais ainda, são representações ideais das relações de dominação, o que significa dizer que não correspondem à realidade que tais relações implicam em sociedade. O ser real de uma dada sociedade é encoberto, mostrando-se uma expressão ideal, portanto errônea, do que de fato ela é. Dessa forma, as idéias assumem a forma de convencimento; o que justifica, reproduz e busca perpetuar determinada classe no poder.

Retomando nosso ponto de partida: os meios de comunicação de massa, expressões da dominação capitalista numa era de informação e imagem, nos mostram sim uma realidade, porém desprovida de significados que nos permitam entender o que nos é dado como real. O “hobbesianismo” se legitima pela falta de conexão causal entre criador e criatura. Explico: violência e miséria não seriam o resultado exclusivo da falta de caráter ou da maldade de parcela dos homens, mas sim de um sistema que produz crescente violência e miséria, subprodutos dos interesses econômicos de um grupo dominante.
Ah! Assim não questionamos a sociedade capitalista, mostrada idealmente e vista como produtora de igualdades, mantenedora das oportunidades e, a sua maneira, promotora de uma justiça jamais vista em nossa história. Tornamo-nos passivos diante de um aparente determinismo, fincado na ganância, maldade e no cinismo humano. Mudar? Não adianta. Hobbes tinha razão ou é só discurso ideológico?

Ubatuba, 15 de junho de 2009.



Minorias: lutas populares e direitos humanos

Por Maria Vitória de Mesquita Benevides

(...) A respeito de minorias, queria lembrar também a confusão que se faz num país como o nosso sobre o próprio conceito de minoria. O que queremos dizer quando nos referimos aos direitos das minorias? Que minorias são essas? Eu sempre acho um pouco de graça quando se fala de mulheres e negros como minorias no Brasil, porque, sobre qualquer ponto de vista do conjunto da sociedade, numericamente tomada, mulheres e negros e/ou descendentes da raça negra são majoritários no país. Assim, é preciso entender que, em alguns países do primeiro mundo, o conceito de minoria é claro, porque se refere àqueles grupos que, por razões até mesmo forçadas de uma imigração econômica, ou política, ou religiosa, são minoria no sentido de não estarem integrados a um determinado sistema legal, a uma determinada ordem jurídica que reconhece direitos e deveres de cidadania, como o são as minorias religiosas, étnicas ou raciais que existem no primeiro mundo e que, como sabemos, estão efetivamente à mercê da nova ordem bárbara dos nacionalismos, da discriminação e do racismo. Neste caso, o conceito de minoria é também um conceito numérico. São grupos minoritários inseridos em sociedades mais amplas e que estão inicialmente desprovidos dessa inserção legal. Então, a sua luta é no sentido não apenas do reconhecimento cultural, mas também da inserção legal como nacionais, como cidadãos. No caso do Brasil, a idéia de minoria não é tão clara e, quando falamos de Lutas Populares e Direitos Humanos, a questão aparece com maior clareza ainda, porque aqueles mais carentes de direitos humanos são justamente os que formam também a maioria numérica do país.



http://www.dhnet.org.br/direitos/militantes/mariavictoria/vitoriapr.html


Maioria e minoria

Desde o início, a pesquisa antropológica sempre deu mais atenção aos povos não-europeus, às minorias étnicas, aos grupos que não fazem parte da cultura dominante. Atualmente, esse interesse pela alteridade cultural continua, o que explica por que as minorias religiosas, sexuais ou profissionais recebem atenção dos pesquisadores.
Aliás, os conceitos de maioria e minoria também se complexificaram ao longo dos últimos anos.
Seria muito fácil definir essas noções de modo numérico. Acontece que, às vezes, uma maioria numérica tem menos força do que uma minoria. Veja-se o caso das mulheres: embora dados estatísticos mostrem que há mais mulheres do que homens no Brasil, elas ocupam menos cargos públicos e recebem salários menores do que os homens. Em contrapartida, há certas classes profissionais – como é o caso dos médicos ou dos advogados – que, apesar de serem minoria numérica no mercado de trabalho, têm um enorme prestígio social, o que significa um alto poder de mobilização na defesa dos seus interesses. Outras profissões, estatisticamente mais representativas, não têm tanta expressividade social.


A questão da alteridade

A Antropologia é a ciência da diferença, da alteridade.
Alteridade se opõe a identidade. Aliás, o radical alter significa, em Latim, “outro”. Portanto, se o “eu” define a identidade, o “outro” caracteriza a alteridade. A relação entre cada membro de uma mesma cultura é de “identidade”; a relação entre membros de culturas diferentes é de “alteridade”.
Muitas vezes, para fazer parte de um grupo social – de um Estado, de uma etnia ou de uma religião – e, assim, afirmar uma identidade é preciso dialogar com a alteridade. Isso porque fazer parte de uma cultura é não fazer de outra. Aos antropólogos, não cabe somente estudar os conflitos que podem advir daí, mas sim analisar as condições em que se estabelecem os laços de identidade e as relações de alteridade.

Antropologia e cultura

Europa, século XIX: a visão cientificista de mundo, produto e produtora do mundo capitalista em expansão, promoveu o aparecimento de diversas disciplinas ligadas às ciências naturais e também às chamadas ciências humanas. A Sociologia e a Antropologia têm aí seu nascedouro.

Os primeiros pesquisadores ligados à nova ciência, afirmavam que para conhecer o “homem” não bastava estudar a sociedade européia (considerada, equivocadamente, um todo coeso e uniforme). Era preciso analisar agrupamentos sociais formados por não-europeus, preferencialmente aqueles com hábitos bastante diversos dos de moradores de Paris, Londres ou Milão. Assim se deu o nascimento da Antropologia.

Enquanto a Sociologia pode ser definida como “ciência da sociedade”, a Antropologia se configura como “ciência do homem”. Dessa forma, crenças religiosas, formas de organização política, costumes, manifestações artísticas, estrutura familiar, idiomas, relações com outros grupos sociais, tudo isso forma o objeto de estudo do antropólogo.
Existe um conceito que pode resumir esse objeto de estudo: o de cultura. Essa palavra, em sua origem usada para designar o processo de “cultivar a terra” – daí a falarmos, por exemplo, em cultura de grãos –, foi passando por sucessivas ampliações de sentido, até que chegou aos significados que conhecemos hoje.
Se encontramos uma pessoa com vasto conhecimento sobre literatura, cinema, artes plásticas, música, costumamos dizer que ela tem muita cultura, já que esse termo pode definir, de acordo com o dicionário Houaiss, “o cabedal de conhecimentos, a ilustração, o saber de uma pessoa”. Em outra perspectiva, quando dizemos que um governo precisa investir mais em cultura, queremos dizer que é necessário valorizar o “complexo de atividades, instituições, padrões sociais ligados à criação e difusão das belas-artes, ciências humanas e afins”, uma vez que essa, de novo segundo o Houaiss, é outra acepção atual da palavra.

Para a Antropologia, o conceito de cultura é ainda mais amplo:

Ele engloba os padrões de comportamento, as crenças e os valores, os conhecimentos e os costumes que caracterizam um grupo social e, mais do que isso, que fazem com que cada membro de um mesmo grupo interprete o mundo de modo mais ou menos parecido.

Assim, a cultura não está associada apenas a elementos que podem ser considerados em sua realidade concreta e material; ela também remete a formas abstratas de pensamento, aos símbolos por meio dos quais cada homem compreende e avalia tudo o que ocorre a sua volta.
Usando as palavras de Denys Cuche: “Se todas as ‘populações’ humanas possuem a mesma carga genética, elas se diferenciam por suas escolhas culturais, cada uma inventando soluções para os problemas que lhe são colocados”. Essas escolhas culturais não são – é importante que se diga – racionais ou intencionais. Elas são o resultado do acúmulo de experiências de várias gerações e podem alterar-se conforme as necessidades do grupo.

Com efeito, do ponto de vista biológico, todos os homens são iguais e pertencem a uma mesma espécie. Porém, do ponto de vista antropológico, cada agrupamento humano tem a sua cultura e as suas particularidades. Foi por isso que os primeiros antropólogos, reconhecendo essas diferenças, resolveram estudar sociedades não-européias, cujas culturas eram menos conhecidas e, desse modo, permitiriam maior desenvolvimento das pesquisas que se iniciavam.